ÂNGELA VIEIRA CAMPOS
Natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, professora e pesquisador do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-M. Doutora em Letras pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais — UFMG.
CAMPOS, Ângela Vieira. Sendas no Silêncio. Belo Horizonte, MG: Arquimedes Edições, 2014. 88 p. 15 x 21 cm. (Coleção Museu Nacional da Poesia, 9). Apresentação por Olga Valeska Soares Coelho. Editora, projeto gráfico e capa: Regina Mello. Foto: Campos Diniz. ISBN 878-85-89667-53-1
Ex. bibl. Antonio Miranda, exemplar enviado por Regina Mello.
Insubordinada sombra
Volto a poetizar o oculto
O rosto recebe palavras
Desvio-me, não as escuto.
Queria os invernos
a paralisar minhas mãos
e língua.
Recuso idiomas,
desobedeço dialetos.
Não pressinto a voz dos anjos,
a dos deuses, desconheço,
tenho apreço por silêncios:
o verbo míngua.
Desastre
A morte não me assombra
mas os dedos róseos da aurora
e as planícies azuis da hélade.
A lucidez das plêiades
em obscuros cantos de sereias
avisam-me da noite maior,
forjada por vozes de poetas,
em cantos de maldoror.
Navego há anos-luz
livre para desastres
pronta para acidentes.
Tantos versos me sulcam
longe de ancoradouros.
E quanto a eu ser outro
talvez mar, talvez sopro.
Dança
Passeio entre os espinhais.
Frágeis, os pés aprendem
os rumores dos gravetos;
preparo um prelúdio
os passos desaprendem a dor.
Música como tessitura:
aguardo um sopro místico,
um desalento:
o nada me subtrai.
Centelhas
por acaso
teci estranhezas
feito verme em tênue fio de luz
criei-me nos vãos:
esporo de supernova,
a galáxia onde floresço
do íntimo fazer o imenso
do deserto, esse grão
de poeira, meu leito.
Um lugar
As ruinas diletas têm riscos
de escorços barrocos
suas geometrias.
O espaço habitável
desconhece chuvas, maresias
recolho-me onde a visão
transborda sua maestria.
Um lugar de sóis, de desejos
de corpo entregue
a beduínos, estrangeiros.
Paragens em volutas
de conchas, arabescos,
passagens luciferinas
em volúpias e ermos.
*
MELLO, Regina. Antologia de Ouro III. Museu Nacional da Poesia – Organização. Belo Horizonte : Arquimedes Edições, 2014. 136 p.
15 x 21 cm. ISBN 978-85-89667-50-0
Ex. bibl. Antonio Miranda, exemplar enviado por Regina Mello.
Tathagata
Eles chegam
mudos passos
inumeráveis bocas acesas
infindáveis olhos despertos
desorbitado açafrão
sem sangue disseminado
os rios de outrora corriam serenos
hoje as águas são outras
turbulentas lamacentas
águas de multilação
deslizam
sedentas de si mesmas
Eles sempre vêm por outras frestas
Porque nada cessa a iluminação
Porque o nada lhes resta
Porque tudo é vão
Um salto de mãos vazias
jeito de olhar a escuridão
jeito de esquecer o medo
de um mundo inteiro em degredo
diante das tiranias.
Torre
Pousou em seu braço
para melhor se equilibrar
mas preferiu enlaçar o espaço
num mergulho infindo
ao encontro do mar
Sua pele de adeus
eram mãos pálidas
ao vento desmedido
a busca-la para o cerne da noite
para tantas luas de Ismálias
Escutava apenas o silêncio
Latejava um pio de pássaro
correndo por dentro...
Alçou um canto de asas
*
Página ampliada em fevereiro de 2021
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Página publicada em fevereiro de 2021.
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